Punição não leva à cooperação social


Os resultados foram bem diferentes do que os psicólogos esperavam ao introduzir a possibilidade de punir quem não cooperasse. Imagem: Xuelong Li et al. - 10.1073/pnas.1707505115
Punição e cooperação
Assim como acontece com as crianças, o castigo parece não ser um meio eficaz para que os membros de uma sociedade cooperem para o bem comum.
Na teoria, o castigo é frequentemente proposto como um meio para coagir as pessoas a serem mais cooperativas. E esta é a prática largamente adotada pelas sociedades modernas - lembre-se das prisões, multas e demais penalidades legais.
Para examinar essas teorias e práticas, uma equipe internacional de pesquisadores, liderada por Marko Jusup (Universidade de Hokkaido - Japão) e Zhen Wang (Universidade Politécnica Noroeste da China) usaram um videogame para realizar um experimento de dilema social.
Dilema do prisioneiro
A equipe usou uma versão de um jogo muito usado pelos psicólogos, conhecido como "dilema do prisioneiro", em que cada jogador pode aumentar sua própria vantagem em relação aos outros descumprindo as regras, mas pode ser punido pela não-cooperação. Cada um dos 225 voluntários, organizados em três grupos, jogou 50 rodadas do jogo.
No grupo um, cada participante jogava contra dois adversários que mudavam a cada rodada. Os participantes podiam escolher entre "cooperar" ou "escapar", e os pontos eram dados com base nas escolhas combinadas. Se o jogador e os dois adversários escolhiam "escapar", o jogador não ganhava pontos. Se todos escolhessem "cooperar", o jogador ganhava quatro pontos. Se apenas um deles optasse por "escapar", o ganho para o jogador era de oito pontos.
O segundo grupo era semelhante ao primeiro em todos os aspectos, exceto que as pessoas que jogavam permaneciam as mesmas durante a duração das 50 rodadas, permitindo que aprendessem as características uns dos outros.
No terceiro grupo, os jogadores também permaneciam os mesmos, mas foi introduzida uma nova opção, "punir". A escolha do castigo levava a uma pequena redução nos pontos para o justiceiro e a uma redução maior dos pontos para os punidos.
Como incentivo, os participantes recebiam no final do experimento um pagamento em dinheiro com base no número de pontos conquistados.
Punição como vingança
A expectativa era que, à medida que os indivíduos jogavam mais com os mesmos oponentes ao longo de várias rodadas, eles veriam o benefício de cooperar para ganhar mais pontos. Introduzir a punição como uma opção é basicamente dizer: "Se você não cooperar comigo, eu vou puni-lo". Em teoria, esperava-se que a aplicação desta opção conduziria a uma maior cooperação.
De início aconteceu o esperado, com os jogadores nos grupos em constante mudança cooperando muito menos (4%) do que aqueles nos grupos estáticos (38%).
Surpreendentemente, no entanto, a adição da punição como opção não melhorou o nível de cooperação, que ficou em 37%. Os ganhos financeiros finais neste grupo também foram, em média, significativamente inferiores aos obtidos pelos jogadores do grupo estático. Curiosamente, houve menos fuga no grupo de punição do que no grupo estático - alguns jogadores substituíram a deserção por uma punição.
"Enquanto a mensagem implícita ao punir alguém é 'Eu quero que você seja cooperativo', o efeito imediato é mais consistente com a mensagem 'Eu quero te machucar'," escreveram os pesquisadores em seu artigo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Por que, então, o castigo é tão pervasivo nas sociedades humanas?
"Pode ser que os cérebros humanos sejam fisicamente projetados para obter prazer em punir os competidores," sugeriu Jusup. Seu colega Wang discorda: "No entanto, é mais provável que, na vida real, o lado dominante tenha a capacidade de punir sem provocar retaliação."

Matéria publicada originalmente em: Diário da Saúde

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