Por mais incômodo que possa ser, os físicos nunca conseguiram se livrar de fato de um "momento da criação".[Imagem: Cortesia www.grandunificationtheory.com] |
Adeus Big Bang?
Será que o universo começou com uma grande explosão - o Big Bang - ou
será que ele lentamente vem se descongelando de um estado extremamente
frio e quase estático?
Embora a ideia de um Big Bang tenha sido ridicularizada e enfrentado
grande ceticismo entre os físicos quando foi apresentada, a atual
geração de cientistas cresceu sob esse arcabouço teórico.
E, por mais incômodo que possa ser, os físicos ainda não conseguiram se livrar de fato de um "momento da criação".
Para a atual geração, o Big Bang parece tão natural que muitos se
esquecem de que se trata de um modelo teórico, e se referem a ele como
um "fato histórico inegável".
O Dr. Christof Wetterich, um físico da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, não comunga desse "paradigma".
Wetterich acaba de detalhar em três artigos científicos um novo
modelo teórico de expansão cósmica que consegue um feito inusitado: ao
mesmo tempo que parece virar a cosmologia atual de pernas para o ar, seu
modelo acomoda os dados observacionais obtidos nas últimas décadas.
Singularidade
Pela nova teoria, o Universo não nasceu em um Big Bang instantâneo
ocorrido 13,8 bilhões anos atrás - em vez disso, o nascimento do
Universo foi calmo e lento, estendendo-se para o passado infinito.
A base dessa proposta é que as massas de todas as partículas
elementares aumenta constantemente, embora muito lentamente, algo que já
é acomodado pela física das partículas.
No modelo atual, quanto mais nos dirigimos ao passado,
aproximando-nos do momento do Big Bang, mais forte a geometria do
espaço-tempo se curva, até chegar a uma singularidade, um termo que
descreve condições nas quais as leis físicas não estão definidas.
No cenário do Big Bang, conforme o tempo vai passando a curvatura do
espaço-tempo vai aumentando, tornando-se infinitamente grande, até
chegar ao "universo plano" atual.
Universo com idade infinita
O professor Wetterich, porém, acredita que é possível ver o quadro todo de um ângulo diferente.
Se as massas de todas as partículas elementares aumentam ao longo do
tempo e a força gravitacional diminui, então o Universo também pode ter
tido um início lento e muito frio.
Nesse ponto de vista, o Universo "sempre existiu" - estende-se
temporalmente ao infinito - e sua "situação inicial" era praticamente
estática.
O cientista considera que os primeiros eventos que são indiretamente
observáveis hoje não estão no bilionésimo de bilionésimo de bilionésimo
de segundo após o Big Bang - eles se estendem a algo em torno de 50
trilhões de anos atrás.
"Não existe mais uma singularidade neste novo quadro do cosmos,"
resume ele, singularidade que sempre foi um elemento incômodo porque
nele as leis da física não funcionam, não há explicação do porquê da
explosão e se mantém a insistente questão sobre o que existia antes.
Campo cósmon
O novo modelo teórico explica a energia escura e o "Universo
inflacionário" primordial com um único campo escalar que muda com o
tempo, com todas as massas aumentando com o valor desse campo.
"É uma reminiscência do bóson de Higgs
descoberto recentemente em Genebra. Esta partícula elementar confirmou a
suposição dos físicos que as massas das partículas de fato dependem de
valores de campo e, portanto, são variáveis," explica Wetterich.
Nesta abordagem, todas as massas são proporcionais ao valor do
chamado campo "cósmon", que aumenta no decurso da evolução cosmológica.
"A conclusão natural deste modelo é um quadro de um Universo que
evoluiu muito lentamente a partir de um estado extremamente frio,
encolhendo durante longos períodos de tempo, em vez de se expandir,"
explica Wetterich.
"No novo modelo, o incômodo dilema de que deve ter havido algo antes do Big Bang já não é mais um problema," diz o Dr. Christof Wetterich. [Imagem: Benjamin/Heidelberg University] |
Mantendo a interpretação do Big Bang
Apesar disso, Wetterich salienta que isso de forma alguma torna a
visão anterior do Big Bang inválida: "Os físicos estão acostumados a
descrever os fenômenos observados usando imagens diferentes: a luz, por
exemplo, pode ser representada na forma de partículas ou como uma onda."
Nessa linha, entender o nascimento do Universo como uma explosão
repentina ou como uma lenta inflação - uma "explosão" diluída no passado
infinito - é algo muito menos radical.
"Isso é muito útil para muitas previsões concretas sobre as
consequências que surgem a partir dessa nova abordagem teórica.
Entretanto, descrever o 'nascimento' do Universo sem uma singularidade
oferece uma série de vantagens," enfatiza ele.
"E, no novo modelo, o incômodo dilema de que deve ter havido algo antes do Big Bang já não é mais um problema," conclui Wetterich.
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