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O raro fungo azul descoberto pela equipe brasileira na Antártica. Imagem: Projeto MycoAntar/Divulgação |
Foram identificados, em fungos na Antártica, duas substâncias com potencial
para dar origem a medicamentos antivirais por pesquisadores da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Tais
substâncias se mostraram capazes de inibir o vírus da dengue,
embora mais estudos sejam necessários para diminuir a toxicidade do
fármaco.
E estes são apenas os primeiros
resultados da expedição Micologia Antártica (MycoAntar), que está
realizando testes com mais de 5 mil extratos de substâncias obtidas
durante as expedições. As amostras, reunidas desde a criação do
projeto, em 2013, permitiu à UFMG constituir a maior coleção de
fungos da Antártica do mundo. São cerca de 8 mil espécies.
A partir dessas amostras, os
fungos são cultivados em baixa temperatura e os extratos coletados
são enviados para o Centro de Pesquisa Renê Rachou, da Fiocruz,
onde foram identificados aqueles que manifestaram atividade biológica
em contato com o vírus da dengue.
"Digamos
que, de mil extratos, 100 foram ativos. Então, vamos mapear cada
substância desses 100 extratos para testá-las individualmente. Já
estamos nessa fase do estudo. Dois extratos já se mostraram mais
promissores e agora vamos caracterizar todas as suas substâncias,"
explicou Luiz Rosa, pesquisador da UFMG.
Já foi identificado pela equipe uma
substância capaz de inibir o vírus da dengue, conhecida como
meleagrina. Entretanto, ela não é inédita.
"Já havia sido observada em
fungo marinho e agora nós a encontramos em um fungo da Antártica. O
problema é o seu preço. Apenas 1 miligrama vale US$ 1 mil. Mas pode
ser que, de repente, nós descobrimos que esse fungo consegue
produzi-la em maior quantidade. Ou quem sabe, no futuro, a gente
consiga usar essa substância como modelo para criar uma molécula
sintética que pode gerar um medicamento acessível",
acrescentou Luiz Rosa.
Um eventual medicamento promissor
não precisará necessariamente ser capaz de eliminar a dengue por
completo. Pode ser, por exemplo, um remédio que alivie os sintomas
de uma fase aguda ou que ajude a desenvolver uma vacina.
Os
estudos com foco na busca por medicamentos contra a dengue estão
mais avançados, mas também está sendo verificada a atividade das
substâncias coletadas para os vírus zika
e da febre
chikungunya, entre outras doenças.
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Pesquisadores escavam o solo congelado da Antártica em busca de fungos e outros microrganismos. Imagem: Projeto MycoAntar/Divulgação |
A Antártica é 1,6 vez maior que
o Brasil e 1,4 vez maior que os Estados Unidos. Em toda essa extensão
há uma grande variedade de seres vivos. No entanto, a vida do
continente gelado é composta de poucos macrorganismos. A maior
biodiversidade é microbiana, isto é, composta de bactérias,
fungos, vírus, microalgas etc.
O isolamento da Antártica também
faz com que muitas dessas espécies tenham características
particulares e sejam exclusivas, não existindo em qualquer outra
parte do mundo.
"Este ano nós descrevemos um
fungo novo, azul, o que é muito raro. Então estas espécies que
existem lá podem ter vias metabólicas únicas, o que pode levar à
descoberta de substâncias inéditas," esclareceu Luiz Rosa. A
nova espécie foi encontrada na neve da Antártica e foi batizada de
Antarctomyces pellizariae.
Infelizmente existe também a
preocupação inversa, com organismos que possam causar danos aos
seres humanos ou animais. Ambientalistas têm alertado que o degelo
nas áreas polares pode liberar microrganismos que estão congelados
há milhares de anos, aos quais a raça humana pode não ter sido
exposta anteriormente e, portanto, não possuir defesas. Atualmente o
degelo prossegue forte no Ártico, mas a cobertura de gelo da
Antártica vem-se ampliando.
Fonte: Diário da Saúde
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