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Dois buracos negros aglutinados girando de forma não alinhada. Imagem: IGO/Caltech/MIT/Sonoma State |
Cientistas
detectaram ondas gravitacionais no espaço que foram causadas pelo
choque de buracos negros a três bilhões de anos-luz da Terra. Esta
é a terceira vez que as distorções são registradas, reforçando a
Teoria Geral da Relatividade prevista por Albert Einstein no início
do século 20.
Isso
leva os estudos sobre o Universo a uma nova era. "O ponto
fundamental deste terceiro registro é que estamos saindo do período
da novidade para a de uma nova ciência observacional, uma nova
astronomia das ondas gravitacionais", disse David Shoemaker,
porta-voz da colaboração científica do Ligo (Observatório de
Ondas Gravitacionais por Interferômetro de Laser, na sigla em
inglês), nos EUA.
Os
sinais foram detectados no dia 4 de janeiro e seus detalhes estão
descritos num artigo publicado no periódico científico Physical
Review Letters.
Como
nas outras duas vezes, o novo evento foi gerado por uma fusão de
buracos negros, que produziu uma quantidade extraordinária de
energia.
A
análise sugere que os dois buracos negros tinham massa de 31 vezes e
19 vezes a do Sol e, quando se chocaram, produziram um objeto de
quase 50 vezes a massa solar.
"Esses
são os eventos astronômicos mais poderosos testemunhados pelos
seres humanos", afirmou Michael Landry, do laboratório do Ligo
em Hanford, nos EUA.
"Essa
energia é liberada num espaço de tempo muito curto, e nada disso
produz luz, por isso que você precisa de detectores de ondas
gravitacionais."
Ondulações no espaço-tempo
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Imagem: S.Ossokine/A.Buonanno (MPI Gravitational Physics) |
-
Ondas gravitacionais foram previstas pela Teoria Geral da
Relatividade, de Einstein
-
Levou-se décadas para se desenvolver a tecnologia para detectá-las
diretamente
-
São ondulações no espaço-tempo geradas por eventos violentos
-
Massas em movimento acelerado produzem ondas que se propagam na
velocidade da luz
-
Fontes detectáveis são fusões de buracos negros e estrelas de
nêutrons
-
O equipamento do Ligo direciona o laser para túneis longos em formas
de L; as ondas fazem a luz se movimentar
-
Detectar as ondas abre caminho para investigações totalmente novas
sobre o cosmos
Assim
como nas duas observações anteriores, em setembro e dezembro de
2015, os cientistas não têm certeza onde exatamente o evento do dia
4 de janeiro ocorreu.
Num
intervalo de três milissegundos entre o sinal detectado primeiro em
Hanford e depois no laboratório de Livingston, em Lousiana, os
pesquisadores conseguem determinar apenas um grande arco de
possibilidades para a fonte do evento.
Telescópios
convencionais foram alertados de um flash de luz coincidente, mas
eles não observaram nada que poderia ser atribuído à fusão dos
buracos negros.
Só
será possível resolver esse problema de triangulação - para
determinar a localização do evento - quando uma terceira estação
chamada Virgo, na Itália, começar trabalhar com as instituições
americanas, nos próximos meses.
'A cada 15 minutos'
A detecção de ondas gravitacionais foi descrita como uma das mais importantes descobertas da física nas últimas décadas.
Conseguir
perceber as distorções no espaço-tempo produzidas a partir de
eventos cataclísmicos representa um passo transformador no estudo do
Universo. Agora, assim como tentar "ver" os eventos
distantes, cientistas também os "ouvem" ao provocar
vibrações no cosmos.
Essa
abordagem traz novos conhecimentos para os pesquisadores, como uma
classe totalmente nova de buracos negros. Antes disso, esses objetos
celestes, com massas que podiam ser mais de 25 vezes a do Sol, eram
totalmente desconhecidos.
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Laboratório de Hanford: algumas das grandes questões na ciência agora requerem máquinas grandes para respondê-las. Imagem: NSF |
"Em
dois anos, passamos de não saber que esses eventos existiam a ter
confiança de que existe um grupo deles lá fora", comentou
Sheila Rowan, membro da equipe do Ligo pela Universidade de Glasgow,
no Reino Unido.
"E
as ondas gravitacionais de um desses sistemas pode passar por nós
aproximadamente uma vez a cada 15 minutos, de algum lugar do
Universo", ela disse à BBC News.
Para
o futuro, espera-se que o equipamento do Ligo seja mais sensível
para detectar ainda mais eventos.
Einstein no caminho certo
Os novos achados trazem mais dados para pesquisas sobre as propriedades dos buracos negros.
Os
cientistas garantem, pela natureza do sinal do dia 4 de janeiro, que
as rotações dos objetos não estavam totalmente alinhadas quando se
chocaram.
Isso
sugere que eles não foram criados a partir de uma dupla de estrelas
que explodiu e provocou os buracos negros. Em vez disso, sua origem
mais provável é a partir de estrelas que tiveram vidas
independentes e em algum momento se tornaram uma dupla.
"Nesse
primeiro caso, esperaríamos que as rotações permanecessem
alinhadas", disse Laura Cadonati, porta-voz do grupo de
pesquisa. "Com isso, encontramos uma nova peça para o enigma na
compreensão dos mecanismos de formação (do evento)."
Além
disso, a astronomia das ondas gravitacionais mais uma vez confirma a
teoria de Einstein.
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Teorias de Albert Einstein tem sido confirmadas. Imagem: AFP |
Os
pesquisadores buscaram um efeito chamado dispersão, que ocorre
quando a onda de luz muda de velocidade dependendo do meio físico -
como quando a luz apontada para um prisma de vidro produz um
arco-íris.
A
teoria sugere que a dispersão não ocorre nas ondas gravitacionais
quando elas se propagam de sua fonte no espaço em direção à
Terra. E, de fato, a equipe de pesquisa não encontrou evidências
desse efeito.
"Nossas
medidas são realmente muito sensíveis a pequenas diferenças nas
velocidades de frequências, mas não registramos nenhuma dispersão,
mais uma vez, não provamos que Einstein estava errado",
explicou Bangalore Sathyaprakash, membro da equipe do Ligo e
representante da Universidade de Cardiff, no Reino Unido.
Em
uma comovente coincidência, o último 4 de janeiro também foi o dia
em que Heinz Billing, pioneiro da ciência da onda gravitacional,
morreu, aos 102 anos.
O
alemão especialista em física e informática construiu um dos
primeiros interferômetros a laser - instrumentos hoje usados para
detectar ondas gravitacionais.
Seu
primeiro trabalho foi crucial para o desenvolvimento dos sistemas do
Ligo.
Matéria colhida na íntegra em: BBC Brasil
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