"Quando você não pensa que alguém é totalmente humano, é mais fácil justificar o ódio ou a agressão contra ele. Isso pode criar um ciclo crescente de ressentimento." [Imagem: Monash University |
Motoristas versus ciclistas
Mais da metade dos motoristas de automóveis acha que os ciclistas não são completamente humanos, estabelecendo um elo entre essa desumanização dos ciclistas e atos de agressão deliberada para com eles no trânsito.
O problema da desumanização, historicamente estudado em relação a atitudes perante grupos raciais ou étnicos, agora parece estar disseminando-se pela sociedade, atingindo presidiários, doentes mentais, moradores de favelas e, em períodos de grande polarização política, até mesmo as pessoas que têm opiniões diferentes das proferidas por um determinado indivíduo.
Alexa Delbosc e colegas das universidades Monash e Melbourne (Austrália) observam que, no âmbito do trânsito, os ciclistas têm sido conceituados como um grupo minoritário e um alvo de atitudes e comportamentos negativos, que tipicamente acabam com prejuízos para o elo mais fraco - no jogo de forças entre um carro e uma bicicleta, o ciclista perde fácil.
Por outro lado, a adoção da bicicleta como meio de transporte é encorajado por vários especialistas, apontando benefícios para o trânsito, para o meio ambiente e para a saúde das pessoas, cada vez mais sedentárias.
A equipe australiana acredita que esses dois fatores - desumanização dos ciclistas e encorajamento da bicicleta como meio de transporte - podem ser conciliados se os motoristas de carros puderem colocar um rosto humano nos ciclistas.
Evolução do macaco ou da barata?
O experimento procurou identificar a atitude de centenas de pessoas em relação aos ciclistas e se os próprios participantes eram ciclistas ou não-ciclistas.
Os voluntários receberam um quadro, no qual podia haver uma de duas imagens: A icônica evolução do macaco para o homem, ou uma adaptação daquela imagem mostrando os estágios da evolução de uma barata até o homem.
Pode parecer estranha essa imagem, mas ela se justifica porque na Austrália, onde o estudo foi feito, os insultos mais comuns dos motoristas contra os ciclistas os comparam a "baratas" ou "insetos".
Em ambas as escalas, macaco-humano e inseto-humano, 55% dos não-ciclistas e 30% dos ciclistas, quando dirigindo automóveis, classificaram os ciclistas no trânsito como não completamente humanos.
"Quando você não pensa que alguém é 'totalmente' humano, é mais fácil justificar o ódio ou a agressão contra ele. Isso pode criar um ciclo crescente de ressentimento. Se os ciclistas se sentirem desumanizados por outros usuários, eles estarão mais propensos a agir contra os motoristas, alimentando uma profecia autorrealizável que alimenta ainda mais a desumanização contra eles.
"Em última instância, queremos entender esse processo para que possamos fazer um trabalho melhor em colocar um rosto humano nas pessoas que andam de bicicleta, para que possamos ajudar a parar com o abuso," disse Delbosc.
Matéria publicada originalmente em: Diário da Saúde
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