Áreas adicionais a serem protegidas para atender às metas de proteção de 50% da Meia Terra em cada ecorregião. Imagem: Judith Schleicher et al. - 10.1038/s41893-019-0423-y |
Meia Terra
À medida que os movimentos ambientalistas ganham voz, alguns ativistas estão propondo metas de conservação cada vez mais ambiciosas. Entre as mais destacadas está a proposta de reservar 50% da superfície não oceânica da Terra para a natureza.
Esta proposta, conhecida como "Meia Terra", juntamente com outras semelhantes, vêm ganhando força entre conservacionistas e formuladores de políticas. No entanto, pouco se sabe sobre as implicações sociais e econômicas para as pessoas da adoção dessas metas.
Por isso, uma equipe do Reino Unido e da Áustria fez a primeira tentativa de avaliar quantas pessoas e quem seria afetado se metade do planeta fosse "salva" para tentar garantir a diversidade dos habitats do mundo.
Judith Schleicher e seus colegas analisaram conjuntos de dados globais para determinar onde o status de unidade de conservação poderia ser adicionado para fornecer 50% de proteção a cada ecorregião: grandes áreas de habitats distintos, como manguezais da África Central, florestas mistas do Báltico, florestas tropicais etc.
As cidades sábias podem ser uma alternativa para as áreas urbanas. Imagem: MAtchUP Project/Divulgação |
Justiça ambiental
Mesmo evitando, sempre que possível, "pegadas humanas", como cidades e terras agrícolas, os resultados sugerem que uma estimativa conservadora para aqueles diretamente afetados pela Meia Terra seria superior a um bilhão de pessoas, principalmente vivendo em países de renda média.
Muitas nações ricas e densamente povoadas no Hemisfério Norte também precisariam ver grandes expansões de terras com status de conservação para chegar à meta de 50% - isso poderia até mesmo incluir partes urbanas de Londres, por exemplo, dando à proposta um quê de irrealismo.
Os autores do estudo argumentam que, embora uma ação radical seja urgentemente necessária para o futuro da vida na Terra, questões de justiça ambiental e bem-estar humano devem estar na vanguarda do movimento de conservação.
"As pessoas são a causa da crise de extinção, mas elas também são a solução. As questões sociais devem desempenhar um papel mais proeminente se quisermos oferecer uma conservação eficaz que funcione tanto para a biosfera quanto para as pessoas que a habitam," disse Judith Schleicher, da Universidade de Cambridge.
Infelizmente a Lei de Moore não se aplica ao mundo real. [Imagem: Domínio Público] |
Consequências para o ser humano
A ideia de uma Meia Terra reservada para a natureza foi popularizada pelo biólogo Edward Wilson em seu livro de 2017 com o mesmo nome. Mais recentemente, um "Acordo Global para a Natureza" - visando uma proteção de 30% até 2030 e 50% até 2050 - foi endossado por várias organizações ambientais.
No entanto, essas propostas têm sido ambíguas quanto a "formas e localizações exatas" do que deve ser conservado, afirmam Schleicher e seus colegas.
Com base em suas análises, a equipe estima cautelosamente que 760 milhões de pessoas se encontrariam vivendo em áreas com novo status de conservação: um aumento de quatro vezes em relação aos 247 milhões que atualmente residem em áreas protegidas.
A equipe pede aos defensores da Meia Terra, e a todos os que apoiam a conservação baseada em áreas, que "reconheçam e levem a sério" as consequências humanas - tanto negativas quanto positivas - de suas propostas.
"Viver em áreas ricas em habitat natural pode melhorar a saúde mental e o bem-estar. Em alguns casos, as áreas protegidas podem proporcionar novos empregos e renda através do ecoturismo e da produção sustentável," afirmou Schleicher. "No entanto, no outro extremo, certas formas de 'fortalezas' de conservação podem ver as pessoas deslocadas de seu lar ancestral e negar acesso aos recursos de que dependem para sua sobrevivência".
"A falta de consideração das questões sociais levará a políticas de conservação que são prejudiciais ao bem-estar humano e com menor probabilidade de serem implementadas. Precisamos ser ambiciosos diante das crises ambientais. Mas é vital que as implicações sociais e econômicas em nível local sejam considerados se quisermos enfrentar os fatores que motivam a perda de biodiversidade. A vida de muitas pessoas e a existência de diversas espécies estão nos dois lados da balança," finalizou Schleicher.
Fonte: Inovação Tecnológica
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