A participação em esportes radicais envolve valores como humildade, harmonia, criatividade e espiritualidade. Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay |
São
comuns os comentários de que pessoas praticantes de esportes
extremos, de alto risco, são "viciados em adrenalina" ou
simplesmente "são pessoas querendo morrer".
Mas
parece que essa visão do senso comum não é capaz de descrever
esses praticantes e suas atividades arriscadas.
Eric
Brymer (Universidade de Leeds - Reino Unido) e Robert Schweitzer
(Universidade Queensland de Tecnologia - Austrália) começaram
definindo os esportes radicais como uma atividade de lazer em que um
erro ou acidente mal administrado poderia resultar em morte - isso
inclui base jumping, surf em grandes ondas e alpinismo sem
cordas, entre outros.
Mas
os objetivos de quem pratica esses esportes parecem exigir conceitos
mais aprofundados.
"Nossa
pesquisa mostrou que as pessoas que se engajam em esportes radicais
são qualquer coisa, menos irresponsáveis que gostam de assumir
riscos com um desejo de morrer. Eles são indivíduos altamente
treinados, com um profundo conhecimento de si mesmos, da atividade e
do ambiente, que fazem isso para ter uma experiência que enriquece e
muda a vida.
"É
muito difícil descrever a experiência, da mesma forma que é
difícil descrever o amor. Ela faz com que o participante se sinta
muito vivo, onde todos os sentidos parecem estar funcionando melhor
do que na vida cotidiana, como se o participante estivesse
transcendendo os modos cotidianos de ser e vislumbrando seu próprio
potencial.
"Por
exemplo, base jumpers falam sobre serem capazes de ver todas
as cores e cantos e fendas da rocha conforme passam chispando a 300
km/h, ou escaladores extremos sentem como se estivessem flutuando e
dançando com a rocha e se mesclando com a natureza," contou o
professor Brymer.
O
professor Schweitzer justifica o estudo afirmando que compreender as
motivações para os esportes radicais é importante para compreender
os seres humanos como um todo.
"Longe
dos pressupostos tradicionais, focados no risco, a participação em
esportes radicais facilita experiências psicológicas mais positivas
e expressa valores humanos como humildade, harmonia, criatividade,
espiritualidade
e um sentido vital de si que enriquece a vida cotidiana," disse
ele.
"Tais
experiências demonstraram ser afirmativas da vida e do potencial
humano para transformação."
Como
os praticantes de esportes radicais acham difícil traduzir suas
experiências em palavras, os pesquisadores tiveram que adotar uma
nova abordagem para entender seus dados.
"Assim,
em vez de uma abordagem baseada em teorias, que podem fazer
julgamentos que não refletem a experiência vivida pelos
participantes de esportes
radicais, adotamos uma abordagem fenomenológica, para garantir
que entraríamos com uma mente aberta.
"Isso
nos permitiu focar na experiência vivida do esporte extremo, com o
objetivo de explicar temas que são consistentes com a experiência
dos participantes.
"Ao
fazer isso, pudemos, pela primeira vez, conceituar tais experiências
como potencialmente representando desafios no extremo da atividade
humana, isto é, fazer escolhas para engajar-se em atividades que
podem, em certas circunstâncias, levar à morte.
"No
entanto, tais experiências demonstraram ser afirmativas da vida e do
potencial humano para transformação. Os esportes extremos têm o
potencial de induzir estados não-comuns de consciência, que são ao
mesmo tempo poderosos e significativos. Essas experiências
enriquecem a vida dos participantes e proporcionam um vislumbre mais
profundo do que significa ser humano," explicou Schweitzer.
A
aventura neste estudo parece ter sido tão intensa que os três
pesquisadores decidiram detalhar todos os seus resultados não em um
artigo científico, mas em um livro, intitulado Fenomenologia e a
Experiência do Esporte Extremo, ainda não lançado no Brasil.
Fonte: Diário da Saúde
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