Não há
dúvidas entre os cientistas de que a fertilidade natural diminue
progressivamente ao longo da vida. Entretanto, é cada vez mais comum
nas sociedades ocidentais as pessoas terem filhos mais tarde.
No Reino
Unido, mais de 50% dos bebês nascem de mulheres acima de 30 anos. No
Brasil, esse índice também tem aumentado – de acordo com o IBGE,
até 2005, 13% das mulheres tinham filhos entre os 30 e 34 anos;
agora, esse número chega a mais de 20%. Cresce também o número de
bebês que nascem de mães acima dos 35 anos, quando a fertilidade
feminina é bem menor.
Além
delas os homens também "sofrem" os efeitos do tempo nesse
quesito. Eles têm sua fertilidade diminuída após os 35 anos - e,
de acordo com estudos recentes, na medida em que os pais têm filhos
quando estão mais velhos, aumenta a chance de os bebês nascerem com
problemas.
A equipe
da BBC consultou cinco especialistas de diferentes áreas sobre qual
seria a melhor idade para começar uma família, levando em
consideração questões biológicas, sociológicas, planejamento
familiar e diferenças de gênero.
1.
Perspectiva biológica
Sarah
Matthews, consultora de ginecologia no Hospital Portland, de Londres,
e especialista em fertilidade, considera que, levando em conta apenas
a biologia, a idade com menor risco de complicações na gravidez e
no pós-parto é entre 25 e 29 anos.
Ela afirma
que há muita falta de informação sobre fertilidade. As escolas que
oferecem aulas de educação sexual, segundo a especialista, se
concentram geralmente na prevenção da gravidez, e, por isso, muitos
homens e mulheres entram na idade adulta sem ter nenhuma informação
sobre fertilidade.
"Às
vezes, recebo mulheres de 48, 49 anos que chegam à consulta com um
novo companheiro, mas, como a menstruação delas está um pouco
irregular, querem entender o que está acontecendo. E ficam
completamente chocadas quando eu digo que elas estão entrando na
menopausa e, por isso, já não podem mais ter filhos", contou.
"Os
tratamentos de fertilidade in vitro podem aumentar as chances
de se conceber, mas não podem fazer o relógio voltar para trás."
2 -
Perspectiva social
A
socióloga Melinda Mills, da Universidade de Oxford, no Reino Unido,
afirma que, do ponto de vista social, há mais benefícios quando os
casais escolhem ter filhos mais tarde.
"Entendo
e concordo com a perspectiva biológica, mas, pela perspectiva
demográfica, o que vemos nos estudos é que, quando os casais
retardam a formação de uma família, há um aumento de renda para
eles de cerca de 10% por cada ano postergado. Isso é notável."
"Por
isso, diria que a melhor idade seria 30 anos ou um pouco mais."
Ela cita
vantagens: há estudos que mostram que os filhos de mulheres mais
velhas atingem níveis educacionais melhores e têm um
desenvolvimento cognitivo maior.
Os motivos
para isso não estão na idade, mas, em geral, na questão
socioeconômica. Os pais tendem a ter uma maior estabilidade em seus
empregos e a ter condições financeiras melhores quando são velhos,
por conta da experiência que acumularam no mercado de trabalho.
3 -
Perspectiva de Gênero
Para
Sophia Walker, líder do Partido da Igualdade das Mulheres no Reino
Unido, "nunca há um bom momento para ter filhos".
Isso
porque, para as mulheres, "existem barreiras estruturais que
fazem com que ter filhos seja uma decisão muito, muito difícil",
afirma Walker, que também é mãe.
"Pensava
que teria muitas opções e, depois que tive filhos, descobri que não
era assim, tudo se tornou muito pior. E nenhum dos homens com quem eu
trabalho parece viver os mesmos problemas na paternidade."
Walker
cita o custo de creches para as crianças, a diferença salarial
entre homens e mulheres e o impacto nas carreiras das mães pela
falta de flexibilidad para dividir as tarefas nos cuidados dos filhos
como fatores que têm um grande impacto sobre a decisão de se ter
filhos ou não.
Ela
ressalta que, enquanto essas questões não forem resolvidas, o tema
da natalidade seguirá afetando a economia dos países e,
principalmente, a situação da mulher na sociedade.
4 -
Perspectiva demográfica
Heather
Joshi, especialista em demografia econômica na Universidade de
Londres, também diz que "não há idade ideal": "Acho
que a melhor resposta para isso é: quando você se sentir pronta."
"Não
acredito que há muitas mulheres com menos de 20 anos de idade que
estejam prontas como as de 30. Mas as mulheres com 30 anos enfrentam
a questão biológica, de ser mais díficil engravidar conforme ficam
mais velhas", pontua.
Por outro
lado, Joshi observa que casais mais jovens acabam não conversando
sobre suas intenções de formar uma família na primeira fase da
relação, quando ainda estão na casa dos vinte anos.
É comum
que eles descubram depois que têm expectativas diferentes - e isso
acaba retardando o momento em que terão filhos.
5 -
Perspectiva de planejamento familiar
Adam
Balen, especialista em medicina reprodutiva da Universidade de Leeds
e diretor da Sociedade Britânica de Fertilidade, afirma que "a
fertilidade natural vai piorando com a idade tanto nas mulheres,
quanto nos homens".
"Mas
é claro que o efeito maior ocorre nas mulheres, que nascem com um
número determinado de óvulos e os vão perdendo ao longo da vida",
diz.
"É
difícil precisar qual seria a idade em que a fertilidade começa a
diminuir de forma mais rápida e, obviamente, também há fatores
genéticos envolvidos."
Em geral,
quando perguntam qual seria a idade ideal para ter filhos, as pessoas
estão pensando em ter mais do que um.
Há
estudos recentes interessantes sobre isso: uma pesquisa feita na
Holanda, por exemplo, concluiu que, se uma mulher quer ter 90% de
chance de ter uma família com três filhos, ela precisa começar a
tentar quando ainda tem 23 anos de idade.
Se ela
quiser dois, o ideal seria começar quanto tem por volta de 27 anos.
E, se quiser somente um, pode começar a tentar quando tiver 32.
Fonte: BBC Brasil
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