Os resultados são consistentes com estudos anteriores, como aquele em que médicos gêmeos compararam dietas ricas em carboidratos e em gorduras. Imagem: Joanna Barwick/BBC |
Uma
pesquisa com mais de 135 mil pessoas em cinco continentes mostrou que
uma alimentação que inclui uma "ingestão moderada" de
gordura e frutas e vegetais, e evita altos níveis de carboidratos,
está associada a um menor risco de morte.
Para ser
específico sobre "moderado", o menor risco de morte foi
identificado entre as pessoas que consomem três a quatro porções
(ou um total de 375 a 500 gramas) de frutas, vegetais e leguminosas
por dia, com pouco benefício adicional de mais do que isso.
Mas a
grande novidade é que, ao contrário do que médicos e cientistas
vêm apregoando há décadas, o consumo de uma maior quantidade de
gordura - cerca de 35% da energia ingerida - está igualmente
associado a um menor risco de morte em comparação com uma menor
ingestão de gordura.
Por outro
lado, uma alimentação rica em carboidratos - mais de 60% da energia
ingerida - está relacionada a uma maior mortalidade, embora não
esteja associada com maior risco de doença cardiovascular.
Estas
são as principais mensagens de dois relatórios publicados pela
revista médica The
Lancet,
ambos produzidos a partir de um grande estudo global liderado por
pesquisadores do Instituto de Pesquisas sobre a Saúde da População,
da Universidade McMaster (Canadá).
A
investigação sobre as gorduras alimentares constatou que seu
consumo moderado
não está associado a doenças cardiovasculares graves e, na
verdade, um maior consumo de gordura mostrou-se associado a uma menor
mortalidade. Isso foi observado para todos os principais tipos de
gorduras - saturadas, poli-insaturadas e monoinsaturadas -, com as
gorduras saturadas associadas a menor risco de acidente
vascular cerebral.
Nem a
ingestão total de gordura e nem a ingestão dos tipos individuais de
gordura mostraram-se associadas com risco de ataques cardíacos ou
morte por doenças cardiovasculares.
Os
pesquisadores ressaltam que, embora isso possa parecer surpreendente
para alguns, esses novos resultados são consistentes com vários
estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados conduzidos
nos países ocidentais nas últimas duas décadas.
Segundo
eles, quando visto no contexto da maioria dos estudos anteriores, o
trabalho reforça o questionamento sobre as "crenças
convencionais" sobre a gordura na alimentação.
"Uma
diminuição na ingestão de gordura leva automaticamente a um
aumento no consumo de carboidratos e nossos resultados podem explicar
por que certas populações, como os sul-asiáticos, que não
consomem muita gordura, mas que consomem muitos carboidratos, têm
maiores taxas de mortalidade," disse a professora Mahshid
Dehghan, principal autora do estudo.
A
professora Dehghan ressalta que as recomendações sobre uma dieta
saudável têm-se concentrado por décadas na redução da gordura
total para abaixo de 30% da ingestão calórica diária, e das
gorduras saturadas para abaixo de 10% da ingestão calórica.
Mas isto
se baseia, diz ela, "na ideia de que reduzir a gordura saturada
deve reduzir o risco de doença cardiovascular, mas não leva em
conta a forma como a gordura saturada é substituída na dieta."
A
pesquisadora acrescenta que as diretrizes atuais foram desenvolvidas
há mais de 40 anos usando dados de alguns países ocidentais onde a
gordura representava de 40% a 45% da ingestão calórica e o consumo
de gorduras saturadas acima de 20%. O consumo de ambas agora é muito
mais baixo na América do Norte e na Europa (31% e 11%,
respectivamente).
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