Diante de
uma grande descoberta científica, é sempre bom ter uma perspectiva
histórica. É o caso, agora, com a extraordinária observação das
ondas gravitacionais emitidas pelo choque de duas estrelas mortas (ou
estrelas de nêutrons).
O choque
ocorreu há 130 milhões de anos, quando dinossauros ainda habitavam
a Terra, mas as ondas gravitacionais resultantes do processo só
agora chegaram a nós.
E os
cientistas anunciaram na segunda-feira terem conseguido, pela
primeira vez, registrar essa colisão. "Vimos a história
ocorrendo bem diante dos nossos olhos: duas estrelas de nêutrons se
aproximando, se aproximando... virando cada vez mais rapidamente uma
para outra, colidindo e espalhando resíduos por todos os lados",
disse à agência AFP o pesquisador Benoit Mours, do instituto
francês CNRS.
Acredita-se
que grande parte dos elementos pesados do Universo - como o ouro, a
platina, o urânio e o mercúrio - seja resultante desse fenômeno.
"Ficou
claro que, de tempos em tempos, (essas estrelas) se aproximam entre
si e causam algum tipo de estardalhaço espetacular", explica à
BBC o astrônomo inglês Martin Rees.
Foi
justamente esse estardalhaço que os cientistas testemunharam.
A grande
questão é que o evento foi registrado primeiro pelas ondas
gravitacionais resultantes - que são como perturbações na
constituição do espaço-tempo geradas por eventos violentos - e,
depois, pelas emissões de luz em muitos comprimentos de onda
distintos (de raios-gama até ondas de rádio) ao longo de dias.
Essa
combinação de observações nunca havia sido possível antes e
oferece novos entendimentos sobre a atuação de estrelas de
nêutrons.
"Essas
estrelas são um laboratório de física extrema: é um material
exótico, rico em nêutrons; e, quando são desmembradas, gera-se
radiação exótica (...) que produz elementos como o ouro. É algo
muito empolgante", explica Martin Rees.
Na
avaliação dos cientistas, o registro de ondas gravitacionais abre
uma nova era na astronomia.
Como as
ondas permitem a medição de distâncias de astros, cálculos a
partir delas podem ajudar a determinar a chamada "constante de
Hubble", teoria que descreve o ritmo de expansão do Universo.
A
empolgação dos cientistas com a recente descoberta vem também do
fato de terem conseguido, ao mesmo tempo, registrar as ondas
gravitacionais e a luz que acompanha esses eventos astronômicos,
algo que permitirá aos cientistas medir não só a distância desses
astros, mas a velocidade com que se movem.
Ainda há
bastante incerteza quanto a esses cálculos, mas há bastante
confiança, no meio científico, de que à medida que mais ondas
gravitacionais forem observadas, mais precisas sejam as conclusões
tiradas a partir delas.
Especula-se
que em mais ou menos uma década observações suficientes sejam
registradas.
"(A
descoberta) é como um presente de Natal", disse à BBC o
astrofísico vencedor do Prêmio Nobel Adam Riess. "Ondas
gravitacionais estão nos dando tantos presentes. (...) É algo muito
promissor, especialmente depois que o LIGO (observatório que
participou das descobertas) tiver coletado algumas dezenas delas e
começarmos a colher os dividendos."
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